Na etimologia do verbo "acolher", encontramos o verbo latino
acolligere, que significa "colher". Ao mesmo tempo em que
acolhe o outro, o professor busca colher elementos que
ajudem a construir sua imagem como profissional.
A relação dos professores com o saber tem sido
contraditória, fato perceptível nos discursos sobre a
docência e o papel do professor. Ao mesmo tempo em
que, no plano discursivo, afirma-se a centralidade do
saber na constituição da profissão docente, na prática
tem-se negado aos professores a condição de produtores
dos saberes, atribuindo-lhes a posição de consumidores
de um saber produzido por outros campos disciplinares
(NÓVOA, 1998). À afirmação da existência de um
saber próprio da profissão de ensinar, construído nas
interações dos professores com outros atores do contex-
to escolar, contrapõe-se o isolamento dos professores em
suas salas de aula, em função da falta de tempos e espaços destinados aos encontros e trocas entre pares. O
reconhecimento da importância da autonomia dos pro-
fessores com relação aos saberes que produzem e ensi-
nam é acompanhado pela implantação de reformas cur-
riculares das quais os professores não participam senão
como implementadores. Essas ambigüidades e contradi-
ções têm adquirido maior visibilidade a partir do desen-
volvimento de pesquisas que focalizam os professores,
sua formação, seus saberes e sua prática, revelando um
interesse crescente por aquilo que acontece nas salas de
aula, na interação desses profissionais com seus pares,
com os alunos e com os contextos institucionais mais
amplos nos quais se dá a docência.
Saber acolher
Entre as pesquisas que focalizam os profissionais
que atuam em pré-escolas, com crianças entre 4 e 6
anos, boa parte discute o modo como esses profissio-
nais lidam com os saberes disciplinares na docência
junto à criança pequena - percepções sobre o ensino da
matemática, de artes, da leitura e da escrita, por exem-
plo. As percepções desses profissionais sobre sua práti-
ca e os saberes que a fundamentam são ainda um
campo pouco explorado. Em geral, aponta-se uma
identificação das práticas pedagógicas desenvolvidas na
pré-escola com aquelas próprias do Ensino
Fundamental e a atuação do professor como reprodu-
tor dessas práticas, numa versão adaptada à criança
pequena,como objetivo deprepará-la para etapas pos-
teriores da escolarização.
Outro aspecto a ser destacado é que as pesquisas
sobre profissionais da Educação Infantil têm abordado,
principalmente, as questões relativas à formação desses
profissionais frente à realidade de reconhecimento da
Educação Infantil como parte da Educação Básica e à
necessária melhoria da qualidade do atendimento à
criança pequena nas creches e pré-escolas. Nessas dis-
cussões, muitas vezes os profissionais que atuam nas
instituições têm encontrado pouco espaço para se pro-
nunciarem sobre os saberes que constroem no enfren-
tamento cotidiano dos desafios que a docência na
Educação Infantil lhes impõe.
Rocha (2001), mapeando o estado do conheci-
mento na área da Educação Infantil no Brasil, destaca
que, na década de 1990, passam a ganhar espaço os
estudos que se propõem ao estabelecimento de parâme-
tros de qualidade e as pesquisas que enfocam as rela-
ções que se estabelecem no cotidiano das instituições
de Educação Infantil. Nesse contexto, aumentam os
estudos que se voltam aos profissionais que trabalham
com a criança pequena e sua formação. Entretanto, a
autora destaca que (...) os estudos sobre a formação dos profissionais
têm antecedido aqueles sobre a própria definição das
particularidades dos profissionais de Educação
Infantil, tais como as características de sua função e
de sua atuação prática, mesmo, de sua identidade e
configuração profissional.
Neste conjunto de trabalhos voltados para a for-
mação, tanto o professor como o profissional de atua-
ção indireta não têm sido muito considerados como
sujeitos em seu próprio processo de formação
(ROCHA, 2001, p.12).
É necessário que as particularidades do profissio-
nal de Educação Infantil sejam conhecidas a partir da
perspectiva desse profissional, para que este possa se
constituir como sujeito das práticas de formação que a
ele se dirigem. E é isto que se pretende com este artigo:
focalizar as percepções de professores da Educação
Infantil acerca dos saberes que estruturam suas ativida-
des de docência, em especial o saber acolher.
PRESENÇA PEDAGÓGICA • v.13•n.78•nov./dez.2007 - artigo - HILDA APARECIDA LINHARES DA SILVA MICARELLO * Coordenadora Pedagógica da Fundação Educacional Machado Sobrinho (FEMS). Professora do curso de Pedagogia do CES/JF. Doutora em Educação pela PUC-Rio. E-mail: micarelo@powerline.com.br
A Educação Infantil é uma etapa fundamental da escolarização básica que deve ser levada a sério. Os professores desta área são profissionais que têm suas angústias e aflições, que em muitas vezes não são ouvidos e muito menos atendidos, porém todo esse processo tem seus objetivos e finalidades, não é um simples brincar, como muitos pensam e também não é uma fase de preparação para etapas futuras, é sim, um momento com etapas próprias que requer do educador uma colheita de resultados próprios e uma avaliação segundo os requisitos que uma criança de Educação Infantil deve alcançar naquele estágio.
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